quinta-feira, 23 de maio de 2019

Tanatogonia


 Teodoro brincava com sua massinha de modelar. Era uma tarde chuvosa, muitos raios cortavam o céu. Ele começou brincando com cada cor separada, mas com o tédio as foi misturando até formar uma massa colorida. Se sentia tão sozinho... modelou animais, cadeiras tortas e por fim fez alguns bonequinhos. Com um palito riscou os olhos e a boca, os sentou na cadeirinha e começou aquela conversa sussurrada de criança, falando consigo mesmo e com os objetos.
 A luz caiu, um raio iluminou tudo e seu estrondo entrou pela janela num pulo. A luz volta e ele olha assustado para seus bonecos: estavam vivos. Eram cinco, todos muito parecidos, se levantaram e se esticaram.
- Finalmente terei amigos.
Bateu palmas e foi olhar com mais atenção os recém animados.
- Olá, estamos aqui. O que quer fazer?
- vamos brincar.
 Ele pegou um carrinho e colocou-os em cima, em quanto puxava eles estendiam os braços para cima. Depois os colocou dentro de uma casinha de palitos. Mas seus dedos desajeitados amassavam o corpo dos homúnculos, que gemiam com dor. Ele notou que eles não queriam mais brincar com raiva:
- Vocês pertencem a mim, devem fazer tudo que eu quiser.
- Gostaríamos de dormir, o dia foi longo e estamos cansados.
Não satisfeito com a resposta Teodoro pegou um envolvendo os dedos na barriga e colocou um lápis de cor na sua boca até atravessar.Chorava por sentir que eles descumpriram a obrigação que tinham com ele.
- Você não vai mais falar besteiras.
Para sua surpresa o boneco sangrou e gritou, esperneando de agonia. Todos os outros se revoltaram:
- Para que nos criar para nos machucar? Nos deixe ir embora.
Tocado pelo ciúme que a arrogância lhe incitou, foi até a caixa de ferramentas de seu pai e pegou um martelo. Amassou os pés dos homenzinhos de massa no chão para que não fugissem e os esmagou com uma martelada atrás da outra. A mistura de sangue, resinas coloridas e membros se confundia e ainda gemia angustiada.
- Qual o motivo de ter nos feito? Precisávamos sofrer isso? Por quê?
Outra queda de luz e o vento parecia dar um grande suspiro lá fora. Dois trovões e quando a luz voltou, não havia resto de nada que não fossem as massinhas inertes.

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