quinta-feira, 7 de março de 2019

O jardim das crianças mortas

 Fomos para uma praça pequena e vazia, cheia de dedaleiras e trombeteiras (no estilo de um jardim vitoriano). No centro havia uma pequena fonte com um anjinho derramando água de seu jarro. Também havia bancos de madeira onde nos sentamos. Chamavam aquele lugar de jardim das crianças mortas pois muitas mães enterravam ali seus filhos que morriam antes de nascer, atualmente apenas jogavam as cinzas. Alguma história dizia que ali elas podiam viver de um modo simbólico.
 Quando acabei de explicar a história do lugar me virei e percebi o modo como olhava para mim, com brilho. Abri o vinho que estava disfarçado em um saco de papel e bebemos. Você segurou o riso e engasgou, cuspindo um pouco por toda parte. Dei o último gole e rimos.
- Sabe, é bom estarmos aqui.
 Deus sabe como a beijei. Envolvi sua cintura com meus braços e ela me envolveu com suas pernas. As estrelas do céu, o anjo zombeteiro e o aroma das flores nos velavam. E se passaram alguns minutos longos suavizados pela embriaguez fraca. Naquele momento minhas mãos já percorriam toda a extensão dela e meus beijos desciam por seu pescoço. O relógio de uma igreja próxima bateu duas vezes.
E então percebi os risos. a afastei, ela ajeitou o cabelo e olhou em volta. Crianças pequenas corriam e brincavam. Gargalhavam e pulavam cordas. Uma menina entregava flores ao seu irmão. Outro riscava uma amarelinha no chão e convidava outros para pular. Nosso corações bateram confusos e fomos chamados para brincar. Algumas crianças corriam para as moitas e desapareciam e falas sem dono flutuavam no ar. A segurei na mão e nos levantamos. Abrimos o segundo vinho, escondido na fonte para não esquentar. Nos sentamos na beira dela e caímos para o delírio dos pequenos.
- Meu amor, veja como estamos molhados.
Ficamos lá os beijando sob o som de risos agudos. No jardim das crianças mortas tudo que podia ser e não foi, era.

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