sábado, 10 de novembro de 2018

Plúmbeo


Eu começo pedindo perdão. Nunca conseguimos alcançar aquilo que deveríamos ser, ou pelo menos o que nos ensinam que é o melhor.Sempre falta um passo de distância...
Houve algumas decepções ( homens ingênuos as chamaram de amorosas). O céu pesado de chumbo chovia gotas de metal, que rasgavam o ar. O brilho oblíquo do sol, típico de chuvas de verão onde parte do céu está sem nuvens, atravessava aquelas gotas de um jeito especial. Mas o mercúrio translúcido escorria pelo chão, se tornando turvo e irreconhecível. A previsão do tempo errado parecia algum triunfo ou maldade da natureza, que insiste em não ser dominada.
Eu queria ainda acreditar em sexo e previsão do tempo, como na época que acreditava em extraterrestres. No auge da paranoia um chapéu de papel alumínio repeliria toda energia estranha vinda do espaço. O Cão Maior  ria de mim das alturas. Sussurros invadiam as ondas de rádio em uma língua de chiados incompreensíveis, mas o medo não precisa de compreensão para existir.
 De certa forma o medo sentido acaba alimentando as coisas. E minha mente voava acima do céu de chumbo e da realidade enclausurante da terra. Como uma alma perdida nos bardos, sendo guiada pelas luzes, eu ia sendo guiado pelas estrelas. Seria bom fugir de madrugada, andar pelas ruas vazias e descobrir um lugar onde a noite fosse eterna, onde eu estivesse em casa.
Eu queria fugir e comungaria todos os poderes que pairavam no ar para isso. O silêncio que me envolvia, o pegaria com as mãos e trançaria como uma corda. Com ela subiria a lugares cada vez mais altos...
E minha alma pairava pelas ruas molhadas num riso nervoso. O chão galvanizado pela chuva refletia a luz amarelada dos postes. A multidão de espíritos se reunia em algum lugar. Os grilos se comunicavam do seu jeito esparso. Será que seres de um lugar diferente do nosso seriam capazes de compreender isso? Certo que não, nem os desse mundo o conseguem.
A ursa maior ruge, um dia as estrelas morrem. Mas espero ter a chance de me sentir feliz mais uma vez, e como uma faísca de eletricidade fluir pelo mundo denso. Eu espero que minhas lágrimas se misturem aquela chuva, e numa reação química oculta, se tornem tão leves a ponto de flutuar. Espero sentar nas pedras frias, onde se vê o brilho da cidade e de braços abertos para cima persistir até o meu translado.

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