O rato

O rato

 Já fazia uma semana que o rato dava sinais de sua existência. Papéis roídos, manchas úmidas no tapete e uma meia desfiada. A ratoeira foi armada e o rapaz foi dormir. Na escuridão no auge da noite ouviu-se um estalo.
- Finalmente! Amanhã jogo fora, melhor voltar a dormir...
 No outro dia apenas o rabo do rato estava preso, como uma piadinha de mau gosto. Armou novamente a ratoeira e saiu de casa, havia assuntos a tratar...
 Chegando a noite e ele se joga na cama e o rato sem rabo começa a guinchar, caçoando e rindo. Levanta-se de um salto e pega uma bota pesada que estava perto e tenta acertar o intruso. Erra na primeira vez e o roedor desce ao chão e corre em direção ao armário. No meio do caminho o atinge, se ouve um barulho de ossos quebrados e o ratinho deixa sangue escorrer pela boca e continua correndo arrastando uma perna até ficar fora de alcance.
 Na outra noite ele acaba de chegar e vai pegar uma meia na gaveta. Sente uma pontada no dedo e tira de súbito: o rato sem rabo, agora com um liquido negro escorrendo e larvas de mosca nos olhos está grudado em seu dedo. Sacode e grita enquanto a abominação guincha sem querer soltar. Depois de bater na parede algumas vezes o rato cai e se esconde rapidamente.
 Na outra tarde ele vasculhou no armário, embaixo da cama, no meio das gavetas e livros sem encontrar nada. Sentou na cama, já era noite, e encostou na parede. Ao olhar para seu ombro lá estava o roedor, ainda mais imundo que da outra vez: os olhos cheios de vermes eram agora crateras. O sangue seco tingia o pelo de um preto viscoso. A perna cambaleante havia caído e juntamente com tufos de pelo.
 O rapaz deu um grito e o rato ficou em pé, passando as patinhas no nariz. Como o animal avançasse para cima dele foi na prateleira e pegou um pote de maionese antigo. Com a boca virada para baixo prendeu o rato e rapidamente fechou o pote. Aproximou a maldita criatura do rosto e sentiu que ela também o encarava. Colocou-o no fundo de uma gaveta que não era usada e nunca mais abriu.

Até mais ^^.