sábado, 24 de março de 2018

Aniversário

Aniversário 

Depois de um dia cansativo era melhor dormir cedo. O peso nos ombros era diminuído pelo vento que entrava pela janela aberta (mas cheia de grades) vindo da rua. Aquele vento de verão que parece tremular a luz amarelada dos postes e rodopia as folhas e a poeira do chão. As sandálias do lado da cama, as costas encostadas na parede gelada, o lençol fino cobrindo o corpo, exceto a cabeça sobre o travesseiro. Não sem custo o sono chegou e dissolveu tudo em uma escuridão calma e silenciosa...
 Pela hora terceira da madrugada um barulho o despertou: parecia haver uma multidão reunida em algum lugar. Calçou as sandálias e esfregou os olhos. Deu uma volta pela casa e percebeu que todas as portas estavam abertas e todos os quartos vazios.
 - Tem alguém em casa?
 Sem reposta se aproximou da porta escancarada para a rua e viu que todas as portas das outras casas estavam abertas, luzes apagadas e som nenhum vinha delas. Saiu e continuou andando.
 - Tem alguém aqui?
 O vento agitava algumas portas que pareciam ruir, mas nenhum som humano. Continuou andando movido pela curiosidade e o som distante de uma multidão ficava mais próximo. Na esquina da praça central viu a tal multidão, que parecia inumana: homens e mulheres com as cabeças cobertas por um capuz preto, apenas com furos para os olhos, e mais nenhuma vestimenta. Seguravam tochas de madeira e tinham as mãos sujas de carvão até os cotovelos. O medo o queria fazer ir embora, mas a curiosidade era maior ao ver uma figura estranha no meio deles. Uma pessoa com cabeça de touro, a língua azul para fora da boca e braços tão longos que com uma pequena inclinação para frente conseguia se apoiar em quatro membros. O ser assustador o encarou e soltou um gemido, como um urro sufocado e logo todos que estavam ali se viravam para ele.
 Desesperado, começou a correr e era perseguido por todos. O homem-animal era mais rápido e estava quase alcançando. Chorando e correndo ofegante conseguiu entrar em casa e fechar a porta. As pessoas batiam as tochas umas nas outras e faíscas voavam, enquanto o animal agora numa posição bípede ficava em pé e batia palmas. Ele foi até seu quarto em desespero e ao olhar para a cama deu de cara consigo mesmo dormindo.
 Num grande suspiro, como se estivesse emergindo da água, acordou e levantou da cama molhado de suor. Já era de manhã e a luz entrava pela janela. Se vestiu e saindo do quarto e indo para cozinha encontrou sua família reunida rindo. Havia um bolo em cima da mesa com algumas velas, pois era seu aniversário de 15 anos. Ele soprou as velas, comeu um pedaço com eles e o dia prosseguiu.

Até mais ^^

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