sábado, 10 de fevereiro de 2018

Caixa de fósforos

Caixa de fósforos
 
 As vezes me sinto tão pequeno que caberia numa caixa de fósforos. Essa pequena caixa de laterais riscadas, com algo escrito e o desenho de um índio na frente parece uma boa casa. Sem cômodos internos, ampla, retrátil e boa para afastar o frio. Do tamanho perfeito para me conter. Sua fragilidade à  chuva seria logo superada por estar estrategicamente colocada entre um vaso de cerâmica e a parede de cimento. 
 As plantas do quintal unidas formam uma grande floresta. Me deito no musgo que de certo lembra algum tipo grama e olho para cima. Um avião colorido com duas asas que se unem e separam pousa numa pista laranja escuro e pontilhada, cercada de pequenas bandeirolas amarelas finas. O aroma da terra antes suave parece ressaltado e é possível ouvir cada movimento subterrâneo criado por criaturinhas esguias. Cada gota de água faz uma cratera com seu formato, como que deixando uma impressão, e mais e mais gotas completam até que nenhuma parte do solo esteja seca. A terra absorve lentamente a água e as folhas gigantes das árvores se agitam. Sim, as folhas dançam num ritmo proposto pelo peso das gotas de água e um poder mágico faz com que elas se levantem a cada vez que são puxadas para baixo...
 A noite é fria e minha pequena casa parece uma imensidão. Eu poderia me perder ali. As vozes dos grandes gigantes já não fazem sentido e seus olhares furiosos não estão direcionados para mim. Um alívio. Vaga-lumes se misturam com as estrelas, a luz esverdeada deles é o que torna possível a distinção. Mas mesmo aqui quieto, encolhido no frio nesse lugar imenso ainda me sinto pequeno e cada vez menor. Tão pequeno que já nem mais existo e a mão de uma criança gigante que abre a caixa de fósforos na manhã seguinte descobre que ela está vazia.

Até mais ^^.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada por ler mais um pensamento !
Deixe aqui sua opinião =]