domingo, 21 de janeiro de 2018

Oração

Oração

As nuvens são como um lençol branco
Que cobre um cadáver
Que já não pode falar
Que já não tem voz

Me sento no mesmo banco
Debaixo de uma árvore de flores roxas
Mas não estou mais lá do que aqui
Vendo a noite se estender
E as estrelas distorcidas na esfera cristalina
Que desce por meu rosto

Meu espirito está dividido
E anseia se reconciliar
Mas como imagens infinitas num espelho
Me perco numa imensidão
Que se estende por sobre o mar.

Como as flores
Gostaria de falar a língua das borboletas
Mas é noite
Deitado na cama, na fazenda de meu avô
A lua lança uma pálida luz
Sobre a areia azulada
E as arvores com suas garras
Envolvem meu quarto e minha cama
Arranham o teto e se estendem pelo chão.

Não muito longe o canto das cigarras emana
E se espalha por todos os lados
Como a chuva se espalha nas pedras.

Só um socorro me resta
A estrela da manhã
Que breve vem me consolar.
Mas ai,que quando ainda estou aqui
Sou como névoa que se desmancha.

Meu sangue escorre pelas ruas
E um espinheiro sobe por minha garganta
Por que há medo de morrer?
Se o dia é para mim
Como um pai que abraça um filho
Depois de tanto tempo...

Gostaria de ter voz, mas sou mudo
Mesmo que fale, nada sai
Além de palavras sem sentido.
Gostaria de ser diferente
E , ainda criança, corrigir meus erros
Dormir nos lençóis alvos
E ver o vento de verão entrar pela janela.

As vezes lembro de coisas já passadas
E me esqueço que também sou passado
Uma vaidade que se desmancha ao simples toque.

E como esperar
Aquele abraço infinito?
O coração sangra de desespero
Mas a esperança não morre
Quereria eu beber água fria
De alguma nascente oculta
E fazer de meu leito a paz das asas de uma pomba.
Quereria eu pedir desculpa tantas vezes que me faltasse voz
E , ao fim, obter um sorriso de perdão.

Aquela foto na sala me assusta
Fizeram o aniversário de um estranho
Que também era eu
Que estava em outro lugar.

Quero lavar minha alma numa oração incessante
E lançar luz sobre meus pensamentos
Que como sonhos se revelam.

Oculto na floresta
Ainda assim, sentia em meus cabelos um afago
E rindo deito na grama
Que ondula dançando
Enquanto o céu cristalino
É traspassado por meu olhar.

Como te amo!
Sabes que te amo como nunca jamais amei
Sou uma semente que recebe cuidados
Cujo jardineiro conta segredos

Não se esqueça de mim!
Embora o mal as vezes me confunda
E eu, entornando veneno
Faça de meus olhos um cálice de sangue
Que transborda
mácula

Quereria eu já não ser eu
E me espalhar por todos os lugares
Seguindo rumo certo.

Não se esqueça de mim!
Ainda hoje o abismo me mostrou seus dentes
E lobos repartiram minhas entranhas

Mas a alma
Acorrentada e aprisionada
Arranha a cela em desespero
Ansiando sair

Ouve tantas vezes quanto for possível
Que preciso de ti
E ai de mim se não for ouvido

Tudo que eu sou se abre como uma flor
E batendo o sol, murcha
Mas o perfume dura além

Ainda hoje, me desculpe
Me faça sentir teu abraço
E me ponha pra dormir
E que eu sonhe contigo
Acorde contigo
E esteja contigo todos os dia
Além do fim da noite
E do raiar de novas manhãs.

Até mais ^^.

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